OS PROBLEMAS DOS VIDEOCLIPES SERTANEJOS


Videoclipes sertanejos são hoje uma realidade. Mais um elemento positivo que o mercado sertanejo soube aproveitar da música pop. Cada vez mais artistas – grandes, médios, pequenos – utilizam essa ferramenta como forma de divulgação de seus trabalhos, o que é sempre bom. Videoclipes falam diretamente ao público, são uma maneira moderna de se inserir no mercado e quase sempre trazem resultados satisfatórios. Exceto, claro, se a popularização dessa ferramenta começar a deixar transparecer uma série de problemas que, em teoria, deveriam ser evitados ou corrigidos. O Top Five de hoje traz alguns dos problemas mais aparentes nos vídeos lançados nos últimos meses e algumas sugestões para tentar pelo menos minimizar esses problemas. Parece um pouco com aquele TOP FIVE dos maiores clichês de videoclipes, mas é que um está diretamente ligado ao outro.

5º PÓS-PRODUÇÃO
Hoje em dia a facilidade do acesso a equipamentos de última geração e do manuseio dos mesmos tornou o processo de produção de um videoclipe, de certa forma, muito simples. Qualquer Zé Mané com uma máquina fotográfica e uma lente é, em teoria, capaz de produzir um clipe. Isso faz com que detalhes importantes desse processo sejam esquecidos, em busca de um preço mais camarada. Um dos principais detalhes que obviamente estão sendo deixados de lado no processo de produção da maioria dos videoclipes recentes é a pós-produção. A edição, obviamente, é imprescindível para o processo, mas a maioria dos produtores de videoclipes não demonstram muita habilidade com o uso das ferramentas disponíveis para realizá-la, principalmente os softwares. É um tal de corta aqui e cola ali e pronto. Como a qualidade de imagem obtida com os equipamentos atuais é bem alta, o tratamento da imagem durante a edição quase sempre é descartado. Efeitos especiais, então, nem se fala. Tudo o que costuma dificultar o processo de edição é eliminado da produção.

4º LOCAÇÕES
Como a maioria das músicas sertanejas atuais têm temas muito parecidos, as locações escolhidas para os videoclipes acabam sendo também praticamente as mesmas. Carros de luxo, mansões com piscinas, iates e boates. Apenas isso. Como se só existisse esse tipo de cenário no mundo. Na hora de escolher um local onde o clipe será gravado, a maioria dos produtores de vídeo parece não parar 5 minutinhos pra montar uma lista de locais bacanas, pouco utilizados, diferentes, e que possam ir de encontro aos objetivos do clipe. O problema em si não são as locações. O problema é a repetição exagerada do mesmíssimo tipo de cenário de um videoclipe pro outro.
3º ATORES E PAPÉIS
Quase não se vê atores profissionais participando dos videoclipes. Na absoluta maioria das vezes é aquele amigo engraçado ou bonitão do artista que aceita fazer o papel principal. E o elenco feminino é a mesma turma de gostosas que costuma acompanhar o artista nos camarotes da vida. O papel principal feminino fica com uma ex-BBB decadente qualquer ou com uma mocinha bonita do círculo profissional ou de amizade do produtor do clipe. E só existem dois tipos de papel feminino nos videoclipes: o principal, que geralmente é uma desilusão amorosa, ou a gostosa que rebola. Quase nunca vemos papéis bem trabalhados, bem interpretados. Na maioria dos clipes, o que se vê é um monte de gente na frente da câmera sem um objetivo aparente.

2º ELEMENTO HUMANO
Como eu disse mais acima, hoje em dia qualquer Zé Mané com uma máquina fotográfica profissional e uma lente consegue fazer videoclipes. Isso fez com que vários “profissionais do vídeo” surgissem do nada. Mas falta elemento humano de qualidade. Criatividade. Competência. Gabarito. Poucos são os profissionais dessa área com experiência ou estudo. Sabendo filmar e sabendo editar, pronto, basta fazer o clipe. Mas pra se obter um resultado de qualidade evidentemente maior, é óbvio que profissionais mais capacitados fazem muita diferença. Alguém que entenda e muito do processo de edição, um diretor de fotografia, um roteirista, maquiadores e por aí vai, além, é claro, do diretor geral.
1º ROTEIRO
Pra mim esse é o maior problema dos videoclipes sertanejos atuais. A maioria dos produtores e diretores de vídeo parece achar que basta jogar um monte de gente em um lugar qualquer e sair filmando, com cenas picadas aqui e ali, sem uma cronologia definida, sem uma ordem de fatos e cenas coerente. Muita gente esquece, por exemplo, de observar a letra da música. Apesar desse ser um dos pontos fracos da atual música sertaneja, boa parte das músicas ainda possuem letras que seguem uma cronologia, o que quase nunca é observado na produção do vídeo. Quando se fala em “roteiro”, a maioria acha que basta escrever numa folha de papel tudo o que se pretende filmar no videoclipe. Mas não basta isso. Um roteiro precisa trazer cada uma das cenas que se pretende filmar, o que quase nunca acontece.

A maioria desses problemas só acontece porque os artistas andam buscando preço ao invés de qualidade, como de praxe em qualquer situação. A cultura do “quanto mais barato melhor” chegou aos videoclipes sertanejos na mesma velocidade com que eles chegaram ao nosso segmento. Se o videoclipe é uma das melhores coisas que a música pop pôde “fornecer” ao sertanejo, que tal começarmos a nos inspirar também na qualidade das produções deles. Ora, se o Guy Ritchie já dirigiu um clipe da Madonna, se o Spike Lee já dirigiu um do Michael Jackson, e se até nos grandes clipes do rock nacional observa-se o máximo de cuidado com cada um destes elementos que apontei acima, nada mais justo que respeitarmos essa inspiração e não transformarmos essa ótima forma de divulgação em pura e simples vergonha alheia.
Publicado por Marcus Vinícius - blognejo