O carnaval de
Salvador é hoje a maior festa de participação popular do planeta. Durante seis
dias de festa, cerca de 2 milhões de foliões percorrem os circuitos, batizados
Batatinha, Dodô e Osmar. Mas, nem sempre foi assim. Até o final do século XIX,
a pequena burguesia e a elite se divertiam em desfiles e clubes, com bailes de
máscaras ao som de marchinhas.
Os títulos
dos circuitos são homenagens a grandes nomes no carnaval baiano. “São justas
homenagens, a Dodô e Osmar, criadores do trio elétrico, e a Batatinha também,
um dos grandes nomes do samba baiano, uma prova de que o samba é daqui”, afirma
o historiador Manuel Passos, que também defende uma homenagem a Orlando Campos,
criador do Trio Tapajós. “Entre 1963 e 1979, quando Dodô e Osmar estiveram
afastados, foi o Trio Tapajós que segurou o carnaval da Bahia. Portanto, acho
que ainda falta uma homenagem para ele”, diz.
Na Baixa dos
Sapateiros, a festa dos negros era embalada pelos grupos Embaixada Africana e
Pândegos D’África. O “divisor de águas” da Folia de Momo veio mesmo em 1950,
com a criação do homenageado de 2010: o trio elétrico. A chegada do carro mais
animado da festa, com as guitarras elétricas e o povo em polvorosa criou o
primeiro circuito da festa: o Osmar, entre o Campo Grande e a Rua Chile. “Era
um circuito único e tudo se concentrava ali. Havia os pontos de encontros dos
jovens, dos trios”, explica o historiador.
No início da
década de 1980, surgiu o segundo circuito, conhecido como Barra-Ondina, mas
oficialmente batizado de Dodô. A restauração e a elevação do Pelô a patrimônio
da humanidade fez surgir o último dos circuitos da festa, nas ruas do Centro
Histórico, chamado Batatinha. “Uma justíssima homenagem a um dos maiores nomes
do samba na Bahia, que foi o Batatinha, uma prova de que o samba é baiano”, diz
Passos.
Escolher
entre um dos três circuitos implica em adotar horários e gêneros musicais
diferentes. Para Passos, o carnaval baiano sempre foi um palco de misturas, de
todos os ritmos. “Tudo é permitido. Uma vez a Ave Maria foi tocada às 18h em
cima do trio elétrico, com todo mundo em silêncio, foi uma das cenas mais
bonitas que eu já presenciei”, testemunha.
Osmar – É nesse circuito que se encontram a
maioria dos blocos alternativos, principalmente até o domingo de carnaval.
Blocos afro, como o Malê Debalê, Munzenza, Bankoma, Ilê Aiyê e Cortejo Afro, e
blocos infantis também passam por esse circuito. A partir do domingo, os blocos
mais tradicionais, voltados para a axé music, começam a passar pelo circuito.
Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Banda Eva e o trio do Rei Momo fazem a alegria
dos foliões entre o Campo Grande e a Praça da Sé.
Dodô – A grande maioria dos blocos de elite faz esse
percurso. “O surgimento do circuito Dodô fez com que a elite se deslocasse para
lá, deixando o circuito Osmar um pouco de lado”, diz o historiador Manuel
Passos. Asa de Águia, Timbalada, Cheiro de Amor, Ivete Sangalo e a Rainha do
Axé, Daniela Mercury, fazem o trajeto Barra-Ondina. Este ano, Moraes Moreira
também se apresenta, em comemoração aos 60 anos do trio. Pepeu Gomes, Rei Momo,
recebe convidados também nesse circuito.
Batatinha – Os independentes se concentram no
circuito histórico da festa. Levada do Jegue, Filhos e Filhas de Gandhy,
Corisco e Carnapelô são alguns dos principais a desfilarem pelas ruas do
Pelourinho.
Para Manuel
Passos, a divisão do carnaval baiano em circuitos deu uma nova cara à folia,
principalmente com a criação do circuito mais visitado, o Barra-Ondina. “É
preciso encontrar formas de restabelecer o circuito Osmar como era antes, como
um ponto de encontro que sempre foi”, completa
Fonte: Clarissa
Pacheco – Redação Bahia.com.br