MÚSICA E ESPIRITUALIDADE NO NATAL

Antes de se mercantilizar no século XX, o repertório musical natalino foi um poderoso meio de expressão da devoção do cristão ao nascimento de seu Salvador. Se hoje em dia a música natalina está diretamente associada à imagem do Papai-Noel, durante o Renascimento e o Barroco ela pode ser associada às inúmeras representações da “Madonna” (isto é, a Virgem Maria com o Menino Jesus no colo) que nos foram herdadas dos períodos em questão.

Durante o Renascimento o motete (forma coral por vezes acompanhada de instrumentos musicais) foi o principal meio de realização do repertório natalino. Alguns dos mais belos exemplos foram escritos pelo compositor italiano Giovanni Gabrieli (1555-1612) que compôs para a Catedral de São Marcos de Veneza (então uma das mais ricas do ocidente) magníficos motetos natalinos como “O magnum mysterium” e “Salvator noster”.

Aluno de Gabrieli, o alemão Heinrich Schütz (1585-1672) escreveu em forma de oratório (uma espécie de ópera, porém sem encenação) a obra “Historia der Geburt Jesu Christi” (ou “História do Nascimento de Jesus Cristo”) dando um passo decisivo para a consolidação da temática natalina no repertório musical luterano.

Aliás, é da tradição luterana que advém o exemplo de música natalina clássica mais tocada na atualidade, isto é, o “Weinachts-Oratorium” (ou “Oratório de Natal”) de Johann Sebastian Bach (1735-1782).

Apesar de ser muito comum a apresentação integral deste oratório em uma única seção, ele foi composto como parte de uma celebração religiosa que se desenvolvia ao longo de vários dias. Divido em seis cantatas, as três primeiras eram destinadas para serem apresentadas durante os três dias do Festival de Natal. Uma outra se destinava para o dia de ano-novo, outra para o primeiro domingo do novo ano e uma última para a o dia da Epifania, isto é, o dia do batismo de Cristo.

Seja em forma de concerto ou integrado a um cotidiano religioso, a beleza do oratório de Bach transcende os dogmas religiosos e frequentemente é apresentado em templos não luteranos, por fim levando a cabo uma das principais mensagens do Natal que é a integração entre as pessoas.

Assim, neste Natal, independentemente de qual fé cristã se pertença – e mesmo independentemente de fé no cristianismo em si – desperte-se para a beleza e riqueza do fantástico mundo sonoro que se criou em torno da temática natalina. Desligue a TV e seus tediosos programas natalinos (que até o último instante tentarão vender mais alguma coisa para você) e ponha um CD especial ou mesmo ligue em uma das diversas rádios ditas “clássicas” existentes no Brasil para dar uma dimensão muito mais bela a esta época tão especial. Abra seus ouvidos, para então abrir seu coração. E feliz Natal!

Fonte: Luna e Amigos